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Gato Fedorento Fãs

Gato Fedorento: 4 pessoas, 4 homens, 4 comediantes, mas acima de tudo são 4 amigos... 4 amigos que adoram o que fazem, e nós adoramos o seu trabalho!

Gato Fedorento Fãs

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CRÓNICA DE RICARDO ARAUJO PEREIRA SOBRE MILEY CYRUS

03
Jun10

Esperava-se que a passagem de Miley Cyrus por Portugal estimulasse uma reflexão profunda acerca do fenómeno Hannah Montana. Tal não sucedeu. Não houve um único colunista português que tenha dedicado cinco minutos a pensar na menina de 16 anos que todos os pais de crianças pré-adolescentes desejam que contraia uma amigdalite que a impeça de cantar até 2025. Pois bem, esse silêncio acaba hoje.

 

Hannah Montana é uma série televisiva cuja protagonista leva uma vida normal durante o dia e, à noite, em segredo, veste uma roupa provocante e sai de casa para ir trabalhar. Esqueci-me de dizer que se trata de uma série infantil. E que a protagonista trabalha à noite como cantora. Os leitores que já se tinham precipitado para o canal Disney devem sentir-se fortemente envergonhados e procurar tratamento.

 

A série conta a história de Miley Stewart, uma adolescente normal e pacata frequentadora da escola que tem, no entanto, uma identidade secreta: depois das aulas, beneficiando de um astuto disfarce que consiste numa cabeleira loira, encanta o mundo inteiro como Hannah Montana, uma estrela pop de indumentária galdéria. Ou seja, durante o dia é uma vulgar rapariga, durante a noite é uma rapariga vulgar.

 

Miley Cyrus, a actriz que faz de Miley Stweart e Hannah Montana, acaba de dar, no Rock in Rio, um concerto que, nos primeiros cinco minutos, foi o mais concorrido do festival. O concerto começou às 22h00 e, às 22h05, 70% da plateia já tinha ido para casa fazer ó-ó, pois estava com soninho. Mas Miley bateu, ainda assim, o recorde de assistência, deixando para trás, por exemplo, Elton John. Ambos os artistas vestem lantejoulas, mas o público distingue claramente aquele que prefere.

 

Mas o mais interessante em Hannah Montana talvez seja o modo como a série contribui para um mundo mais moderno e mais tolerante. Hannah Montana é uma referência e uma inspiração para pais travestis de todo o mundo. "Vês, Pedrinho? O papá é como a Hannah Montana: à noite põe uma peruca loira e passa a ser outra pessoa. Não é decadente, é fofinho. Não é estranho, é Disney." Talvez seja este o fascínio de Hannah Montana: uma estrela que sabe encantar as crianças mas também consegue ser entusiasmar o mundo do transformismo. Não há muitos artistas que se possam gabar do mesmo. E, aqui para nós, ainda bem.

BOCA DO INFERNO(11 de Fev de 2010)

14
Fev10

Liberdade de pressão

Quando o primeiro-ministro Cavaco Silva disse que dedicava apenas cinco minutos por dia aos jornais, houve indignação. Agora, há saudade

É uma questão que tem sido colocada várias vezes: a internet vai acabar com os jornais? Finalmente, temos a resposta: só se José Sócrates não acabar com eles primeiro. O primeiro-ministro tentou controlar o défice e não conseguiu, tentou controlar o desemprego e não conseguiu, tentou controlar a comunicação social e esteve perto de conseguir. Acaba por ser justo que o plano tenha falhado. Era o que faltava que Sócrates fosse eficaz no que lhe interessa e ineficaz no que interessa ao País. Este caso tem essa dimensão muito reconfortante: ora até que enfim que o primeiro-ministro sofre com a inabilidade política do primeiro-ministro. Apesar disso, todos gostaríamos que José Sócrates colocasse nos assuntos do Estado o mesmo empenho que coloca nos seus assuntos. Que, em vez de Mário Crespo, o desemprego fosse um problema que teria de ser solucionado. Que, em lugar de uma operação financeira para adquirir a TVI, se empenhasse numa operação financeira para reduzir o défice. Talvez falhasse na mesma, mas ficaríamos com a sensação de que teria feito um esforço maior.

Quando o primeiro-ministro Cavaco Silva disse que dedicava apenas cinco minutos por dia aos jornais, houve indignação. Agora, há saudade. Quem nos dera que o actual primeiro-ministro gastasse apenas cinco minutos do seu dia a pensar nos jornais. Pelo contrário, parece estar interessado em fazer com que bastem cinco minutos para os ler todos: ou porque os jornalistas, a contas com processos judiciais interpostos por ele, não têm tempo para escrever mais que duas ou três páginas, ou porque os que sobram fora dos tribunais escrevem todos o mesmo. Algo de muito grave se passa quando o País suspira pela liberdade de imprensa dos tempos de Cavaco Silva.

Neste momento, Portugal tem um primeiro-ministro que mais depressa se demite por causa das finanças regionais do que por causa da liberdade de imprensa. Trata-se de um homem que quer ser primeiro-ministro para mandar na TVI. Mais do que a ofensa à democracia e à liberdade, o que não se lhe perdoa é a falta de gosto. E um insuportável centralismo: um homem que recebe do povo o poder de governar o País inteiro, mas que deseja sobretudo mandar em Queluz. O mandato que lhe deram nas eleições é manifestamente exagerado.

Apesar de tudo, Sócrates tem uma virtude inestimável: conseguiu fazer despertar um amor pela liberdade de expressão em quem nunca mostrou que lhe tivesse sequer amizade. É bonito que o espírito antidemocrático seja um veículo de democratização. Confuso, mas bonito.

 

in:visão
by: Ricardo Araujo Pereira

BOCA DO INFERNO (5/2/2010) RICARDO ARAUJO PEREIRA

06
Fev10

Ao que parece, alguém se enganou com o seu ar sisudo e lhes franqueou as portas à chegada: os vampiros estão em todo o lado. Na literatura, no cinema, na televisão, aparecem vampiros a toda a hora. Saiu uma antologia portuguesa de contos com vampiros, há filmes e livros estrangeiros cheios de vampiros, e quase todos os programas de televisão incluem um vampiro: nas telenovelas, lá está um vampiro; nas séries juvenis, lá está um vampiro; nas conferências de imprensa do ministro das Finanças, lá está um vampiro.
Por que razão abandonaram os vampiros a Transilvânia e vieram povoar o resto do mundo? Por uma razão artística muito forte: porque vendem. Aparentemente, o público do início do século XXI tem um interesse sem precedentes pelos vampiros - o que, diga-se, não é fácil de perceber. Os vampiros são um monstro que não inspira particular terror. São, no fundo, um monstro totó. Gostam de sangue, mas isso também os apreciadores de cabidela, e eu não tenho medo deles. Não podem apanhar sol, como as crianças que têm a pele leitosa. Têm medo de alhos, que é das fobias mais maricas que uma pessoa pode ter. E morrem se lhes espetarem uma estaca de madeira no coração. Olha que idiossincrasia tão gira. Ao contrário do que acontece com o resto de nós, os vampiros não duram muito se lhes empalarem o coração. De resto, é um facto que desejam morder-nos o pescoço, o que não deve ser agradável. Mas, se o conseguirem, transformam-nos em vampiros imortais. Que transtorno tão grande. Um monstro que, se não tivermos cuidado, nos dá a vida eterna. Há religiões que, a troco de muito dinheiro, não oferecem metade. Por mim, não me importo de ficar com os caninos um pouco maiores se é esse o preço a pagar para viver para sempre. Nem precisam de me prometer a eternidade: perante a perspectiva da morte, até aceito ficar com a dentição da Teresa Guilherme se me derem mais duas semanas de vida.
O mais surpreendente nestes vampiros modernos é o modo como a adaptação aos tempos actuais os tornou ainda menos assustadores. Apaixonam-se com muita facilidade por raparigas humanas, o que lhes agrava as olheiras. Desenvolveram uma ética que não lhes permite fincar o dente em qualquer pescoço para saciar a fome. São monstros certinhos, que querem comportar-se como deve ser para terem uma vida social igual à das outras pessoas. São uma espécie de diabético que, em vez de tomar a injecção de insulina de vez em quando, toma um sucedâneo de sangue. Não são monstros, são pessoas doentes que querem fazer uma vida normal. É aborrecido. Os vampiros da minha infância andariam por aí a morder pescoços indiscriminadamente. A estes, só lhes falta que a ASAE apareça a proibi-los de sugar artérias em restaurantes. Bananas.

CRONICA DO ZÉ DIOGO QUINTELA NO JORNAL "A BOLA"16-1-2010

19
Jan10

Soube pela imprensa que Pinto da Costa tenciona processar-me. Anunciou-o numa cerimónia do FCP em que também agraciou Bruno Alves com um prémio. Portanto, queixa-se por eu lhe pisar os calos, ao mesmo tempo que louva um jogador que tem por hábito pisar rótulas. Deve ser a isto que chamam a ironia de Pinto da Costa. Segundo os jornais, tem que ver com a minha crónica de há quinze dias, onde ficcionei uma escuta no futuro, entre PC e um árbitro. Confesso que acho estranho: Pinto da Costa esforçou-se tanto para que as escutas verdadeiras não fossem admitidas em tribunal, mas agora quer que o mesmo tribunal aprecie uma escuta inventada por mim. Realmente, tinha graça que as escutas verdadeiras fossem nulas em tribunal mas as inventadas fossem aceites.

Querem ver que a única pessoa condenada por causa de uma escuta relativa ao Apito Dourado ainda vou ser eu? Diz Pinto da Costa que faltei ao respeito a um clube centenário.

O que nem é muito rigoroso: o FCP é um clube bicentenário, já que festejou um centenário em 1993 e outro em 2006. Parece que o mal é eu ter falado na versão da Carolina Salgado. Portanto, se eu me inspirasse antes na versão oficial de Pinto da Costa e de Augusto Duarte, estaria tudo bem. Para quem não se lembra, essa versão é a seguinte: dois dias antes de um jogo importante para as aspirações do Porto, Pinto da Costa recebe em casa o árbitro que o vai apitar, Augusto Duarte.

Diz que a visita é inesperada. As escutas desmentem-no. Diz que a visita não se cruzou com Carolina Salgado. A visita desmente-o. Árbitro pede a Pinto da Costa favor relativo a seu pai, uma vez que Pinto da Costa tem influência sobre o presidente do Conselho de Arbitragem, superior hierárquico do pai (membro do Conselho de Arbitragem, entretanto condenado noutro processo de corrupção desportiva). Dois dias depois, o árbitro erra a favor do Porto, não expulsando um jogador aos 15 minutos de jogo. O Porto acaba por se sagrar campeão na jornada seguinte, podendo descansar jogadores para a meia-final da Champions. A justiça desportiva condena o Porto.

O Porto não recorre. De facto, esta versão é insuspeita. Só não se sabe é se Pinto da Costa chegou a fazer o tal favor ao árbitro. Se o processo avançar, fico então à espera que alguém me avise com antecedência, para eu me pisgar para a Galiza. Parece que é assim que se faz nestes casos.

No fim, enviarei a conta dos advogados para o FCP. Pode ser que paguem por engano, como pagaram a viagem ao Brasil de José Amorim e família. Aliás, árbitro Carlos Calheiros e família. Até agora, só por ter trocado alguns mails com os meus advogados, já gastei serviços jurídicos no valor de 2 árbitros e meio. Em preços actuais, não os da tabela antiga, do Juiz Mortágua. Sobre o que disse nestas crónicas, cá estarei para dar a cara. Como o guarda-redes da União de Leiria

Mudam os túneis mas a tanga é a mesma

17
Jan10

AINDA ninguém sabe o que mostram as imagens do túnel da Luz, mas os portistas já decretaram que as provocações são «indiscutíveis». Pronto, está decidido. A Liga que tome nota e as imagens que se arranjem lá como quiserem: é bom que mostrem provocações, caso contrário estarão a alinhar no centralismo. Todos sabemos que as imagens de vídeo, quando querem, conseguem ser muito centralistas. Enfim, só quem não se lembra das escutas, das nunca desmentidas escutas, pode estranhar esta insistência portista nas provocações. Como o leitor decerto saberá, esta não é a primeira vez que a equipa do Porto causa tumulto num túnel de Lisboa. Em Junho de 2004, por exemplo, a Comissão Disciplinar da Liga de Clubes deu como provado que, no final de certo Sporting-Porto, que acabou empatado, o treinador do Porto rasgou uma camisola do Sporting e desejou que Rui Jorge tivesse morrido em campo. A história é conhecida: no fim do jogo, Paulinho, roupeiro do Sporting, foi ao balneário do Porto tentar trocar uma camisola do Rui Jorge pela do Vítor Baía. O treinador portista, sem ser provocado por qualquer steward, esfarrapou a camisola e formulou o ternurento desejo. Foi justamente no dia seguinte que a PJ captou esta conversa telefónica entre Pinto da Costa e um administrador da SAD:

Antero Luís (A) - F******! Não dormi um c******! Estou com uma enxaqueca, pá.

Pinto da Costa (PC) - F***** da p****.... [...] Tínhamos morto esta m**** ontem [...]

A - Embora eu ache que o Mourinho, no final, também se exaltou muito!

PC - É, um bocado.

A - É! Aquela história de dizer que o Rui Jorge morreu em campo e...

PC - Ele disse aonde?

A - Ele diz que disse cá em baixo, disse cá em baixo, junto a... quando estava a malta toda ali! Mas eu liguei para a Bola e para o Jogo a desmentir! A dizer que ele estava a dizer que era mentira!

PC - Não, não! Não... não é desmentir! A gente tem é de processar o gajo que diz! [...]

A - É... e em relação à camisola, também tem de se arranjar ali uma tanga, presidente!

PC - Arranjar que ele foi provocar para a porta do balneário!

A - É. E que o Mourinho disse que: 'Esta camisola é indigna de ser trocada. Porque se a tivesse rasgado não a mandava outra vez para o balneário do Sporting.' [...] É! Temos de arranjar aí uma tanga, senão saímos por baixo desta m**** toda.

Como penso ser óbvio, a escuta tem tanto valor literário como substrato informativo. Lá está a estratégia de desmentir factos reais, a intenção de processar quem diz a verdade e a ideia de «arranjar uma tanga» — tanga essa que, pouco surpreendentemente, consiste em alegar a existência de uma provocação. Seis anos depois, mudam os túneis mas a tanga é a mesma. É interessante constatar que o Porto produz mais tangas do que a Triumph. É bem verdade: tocou a reunir no Porto. E a reunião faz-se, uma vez mais, ao redor da tanga.

Segundo a opinião insuspeita e prestigiada de Cruz dos Santos, no Porto-Leiria o guarda-redes dos visitantes foi expulso injustamente, uma vez que, como toda a gente viu, a bola lhe bateu na cabeça, e não na mão. Além disso, segundo o mesmo insuspeito e prestigiado especialista, o penalty falhado por Ronny deveria ter sido repetido, uma vez que Helton se adiantou antes de a bola partir. Helton cometeu, portanto, uma ilegalidade. Como é evidente, foi o herói na noite no Dragão. Tendo em conta que, ao que me dizem, está tudo feito para que o Benfica seja campeão, calculo que as equipas que vão jogar ao Dragão tenham o topete de, à cautela, passar a apresentar-se com guarda-redes desprovidos de cabeça, para ver se aguentam mais tempo em campo. Vale tudo para beneficiar o Glorioso.

No início da época, Domingos Paciência disse que, no ano anterior, o Braga tinha obrigação de ter feito melhor no campeonato, Taça e Taça da Liga. Na UEFA, competição em que o Braga tinha vencido a Taça Intertoto, Domingos não conseguiu passar da pré-eliminatória, frente ao poderoso Elfsborg. Na Taça da Liga, acaba de ser eliminado exactamente na mesma fase em que havia sido eliminado na época anterior. Falta o campeonato e a Taça. Mas, reduzido a duas competições, de facto tem mesmo obrigação de fazer melhor.

Por Ricardo Araújo Pereira, edição 16 de Janeiro 2010 in Jornal A Bola

CRONICA SOBRE PINTO DA COSTA

13
Jan10

Pinto da Costa anunciou a intenção de interpor uma acção judicial contra José Diogo Quintela, na sequência de um artigo publicado no jornal "A Bola", no dia 3 de Janeiro, intitulado "Previsões para 2010"

 


PREVISÕES PARA 2010

Não há nada melhor para começar o ano do que uma crónica com previsões sobre 2010. Principalmente para mim, que ainda estou um bocadinho ressacado e preciso de escrever algo que não puxe muito pela cabeça. Daí estas previsões: é impossível haver alguma coisa mais fácil de adivinhar do que o previsível futebol português. O leitor não acredita? Então veja.

9 DE JANEIRO
O Correio da Manhã publica uma escuta entre Pinto da Costa e um árbitro. A transcrição contém, entre outras coisas, o seguinte excerto:

Pinto da Costa - Combinamos então que o sr. árbitro vai beneficiar o meu FC do Porto, a troco de 2500 euros.
Árbitro - Portanto, o sr. Pinto da Costa dá-me 2500 euros...
Pinto da Costa - Certo.
Árbitro - ... e eu ajudo o FC do Porto a ganhar o jogo da semana que vem...
Pinto da Costa - É isso.
Árbitro - Recapitulando: vai corromper-me por 2500 euros?
Pinto da Costa - Correcto.
Árbitro - É mesmo corrupção?
Pinto da Costa - Daquela mesmo corrupta.
Árbitro - Fica então combinado, sr. corruptor.
Pinto da Costa - Obrigado, sr. corrompido.

10 DE JANEIRO
O Público e o DN publicam as escutas incriminatórias.

13 DE JANEIRO
Os jornais desportivos referem brevemente as alegadas escutas entre o alegado Pinto da Costa e um alegado árbitro.

23 DE JANEIRO
Comentadores afectos ao FC do Porto dizem que só por maldade é que se pode afirmar que a escuta em que Pinto da Costa oferece dinheiro a um árbitro para ajudar o Porto é uma prova de que Pinto da Costa ofereceu dinheiro a um árbitro para ajudar o Porto. Avançam a hipótese de «2500 euros» ser código para «cumprimentos para a família» e «beneficiar o Porto» código para «não fazer absolutamente nada a favor do Porto».

4 DE FEVEREIRO
O tribunal de Gondomar manda arquivar a escuta entre Pinto da Costa e o árbitro, com o argumento técnico-jurídico de que «não dá jeito nenhum ao Futebol Clube do Porto»

CRONICA DO ZÉ DIOGO QUINTELA NO JORNAL "A BOLA"9-1-2010

13
Jan10

NA terça-feira, Miguel Sousa Tavares escreveu: «Desde que esta época se iniciou, eu tinha feito a mim mesmo uma promessa: aguentar-me até ao limite para não dar alento nestas crónicas ao clima habitual de facciosismo cego que alimenta ódios e suspeições sem fim e impede de ver e reconhecer o mérito alheio onde ele existe. Já lá vai decorrido meio campeonato e nunca, uma só vez que fosse, me pronunciei sobre arbitragens: quer as do meu clube, quer as dos outros; elogiei, mais do que uma vez, os progressos evidentes do futebol do Benfica, escrevendo que era a equipa que mais e melhor estava a jogar, e não tive uma dúvida em reconhecer como mais do que justa a sua vitória recente sobre o FC Porto. Fiz o que pude para a sanidade do ambiente. E aguentei-me até onde consegui. Mas, às tantas, as coisas começam a ficar difíceis de encaixar sem reagir. Anteontem, por exemplo, ao ler o texto, pretensamente engraçadinho, do Diogo Quintela, achei que a direcção do FC Porto deveria abandonar a sua tradicional passividade litigante e colocar-lhe um processo-crime por difamação, como o seu texto amplamente merece. Talvez ele prefira a justiça popular à justiça democrática, talvez prefira a verdade popular à verdade apurada como tal; talvez as sentenças da justiça comum (e não a da populaça futebolística) lhe não mereçam respeito algum, talvez mesmo nem sequer se dê ao trabalho de as conhecer. Mas certamente sabe que insistir em mentiras desmascaradas pela justiça é uma calúnia e sabe que ofende, não apenas o presidente do FC Porto, mas todos os portistas, quando se diverte a escrever pretensos diálogos em que Pinto da Costa compra um árbitro por 2.500 euros. Goebells [sic] dizia que uma mentira repetidamente dita transforma-se em verdade. Mas Goebells [sic] perdeu e as democracias triunfaram. Talvez Diogo Quintela não goste, mas é assim: há regras no jogo.»

O leitor deve estar a perguntar-se qual a diferença entre a verdade popular e a verdade apurada como tal. Eu sei que estou. Existirão várias verdades para o mesmo facto? Por exemplo, MST diz: «Já lá vai decorrido meio campeonato e nunca, uma só vez que fosse, me pronunciei sobre arbitragens». Mas na sua crónica de 15/12/09, já tinha escrito «o que valeu ao Benfica em Olhão foi, como é habitual também, os últimos minutos do jogo, um fiscal de linha desatento à posição de Nuno Gomes no golo do empate e um árbitro atento ao facto de domingo haver um Benfica-Porto, quando se encaminhou para Cardozo, depois de expulsar Djalmir, e pelo caminho mudou o vermelho a Cardozo para amarelo». (Entretanto, peço ao leitor que memorize o facto de MST achar que, ao não expulsar Cardozo, o árbitro beneficiou o Benfica. Vai-nos ser útil mais à frente).

Esta afirmação em que MST se vangloria de «nunca, uma vez que fosse» ter falado de arbitragens, nem repetida muitas vezes passava a verdadeira. Mesmo pelo tal Goebells. Ou pelo próprio Goebbels. A não ser que eu e MST tenhamos um entendimento diferente do que é: nunca, uma vez que fosse. Ou, se calhar, temos um conceito diferente de verdade. MST acha que é verdade que esta época não se tinha ainda pronunciado sobre arbitragens. Já eu acho que é mentira. Os factos, curiosamente, também acham que é mentira. E o que dizem os factos da noite que deu origem ao Caso do Envelope, no qual me baseei para imaginar o tal diálogo pelo qual MST quer que eu responda em tribunal?

Dias antes do Beira-Mar – Porto, Pinto da Costa recebeu em casa Augusto Duarte, o árbitro desse jogo. Este é verdade. Pinto da Costa disse ter sido surpreendido, mas há escutas em que combina a visita com António Araújo, o intermediário do encontro, e outras em que lhe dá indicações sobre o caminho para sua casa. A mesma casa onde não esperava receber a visita que tinha acabado de lhe dizer que estava a chegar. Este também é verdade. Pinto da Costa disse que Carolina Salgado estava doente e não se cruzou com as visitas. As visitas e a própria Carolina dizem que é falso. Até agora, uma das pessoas que habitava naquela casa da Madalena está a mentir. Uma pista: não é a Carolina Salgado. Bom, isto está provado.

O que não está provado é outra coisa. Digo: não está provado, que é muito diferente de: está provado que não aconteceu. E a coisa são duas versões contraditórias. MST prefere acreditar na de Pinto da Costa, quando este diz que serviu de conselheiro matrimonial ao pai de um árbitro, do que acreditar na de Carolina Salgado. Entre essas duas pessoas, eu prefiro acreditar na que não é presidente de um clube que, por exemplo, pagou uma viagem ao Brasil a um árbitro.

O que também está provado é que, aos 15 minutos desse jogo, Augusto Duarte perdoou a expulsão a um jogador do Porto. A juíza achou que uma expulsão perdoada não é suficiente para uma equipa ser beneficiada? Eu não concordo. E, pelos vistos, MST também não. (Agora é a altura em que peço ao leitor que se recorde que MST considera que o Benfica foi beneficiado por o árbitro não ter expulso Cardozo. Valeu ou não valeu a pena guardar a informação?)

Na mesma crónica de 15-12-09, MST tinha-se referido ao tal Beira-Mar – Porto como «um jogo que já não contava para nada». Uma peta que MST e outros portistas gostam de repetir e que, lamento, não se vai tornar verdade.

Antes desse jogo, o Sporting estava em 2.º lugar, a 5 pontos do Porto. Havia 12 pontos em disputa. O Porto alinhou em Aveiro sem muitos titulares, pois 3 dias depois ia jogar a 1.ª mão da meia-final da Liga dos Campeões. Na mesma jornada o Sporting foi prejudicado no Bessa, quando Bruno Paixão expulsou Rui Jorge e assinalou fora-de-jogo antes do meio-campo a um Liedson isolado. O Sporting (que estava a ganhar) ficou injustamente reduzido a dez e perdeu. O Porto permaneceu injustamente com 11 e não perdeu.

Se o Sporting tivesse ganho e o Porto tivesse perdido, o Sporting ficava a 2 pontos e o Mourinho já não podia descansar outra vez a equipa, na 33.ª jornada, antes da 2.ª mão da Champions, na Corunha. Como fez, já campeão, perdendo com o Rio Ave. Alinhou nesse jogo com Pedro Ribeiro, Pedro Emanuel, Mário Silva e Ricardo Costa na defesa, em vez dos habituais titulares Ricardo Carvalho, Nuno Valente, Jorge Costa e Paulo Ferreira.

Eu cuido que este Beira-Mar – Porto ainda contava para alguma coisa. Por mais que o MST, pensando no Goebbels, repita que não.

Recapitulemos, então. O presidente do FC do Porto recebe em casa o árbitro que vai apitar o próximo jogo do seu clube. Mente sobre estar à espera dele e sobre a presença de Carolina Salgado. Carolina Salgado diz que foi passado um envelope com 2500 euros, Pinto da Costa e o árbitro dizem que não foi. No entanto, contra o Beira-Mar, o Porto é beneficiado ao não ser expulso um seu jogador logo aos 15 minutos, num jogo que era importante para o campeonato e para a Liga dos Campeões. A justiça desportiva castiga o Porto por corrupção, o Porto não recorre. A justiça comum não desmascarou nada disto.

É isto que Miguel Sousa Tavares quer que eu vá dizer a tribunal? Por mim, tudo bem.

Paz e amor para todos menos para mim

01
Jan10

O Natal é tempo de paz, tempo de amor, tempo de lamentar a existência de pessoas como eu. Não admira que seja uma época que toda a gente aprecia. No dia que assinala o nascimento do salvador, o cardeal-patriarca não resistiu a lembrar que há quem não tenha salvação possível. Acaba por ser uma observação animadora. Se alguma coisa pode transtornar quem mereceu um lugar no paraíso é o facto de haver fila para entrar. Pois bem, eu serei menos um a obstruir os portões do céu: na homilia da missa de 25 de Dezembro, D. José Policarpo saudou os judeus e todos os que acreditam num Deus único - mas, ostensivamente, não me saudou a mim, que sou ateu. Os judeus acreditam tanto como eu que o menino cujo aniversário se celebrava é o filho de Deus. No entanto, receberam uma saudação. Para mim, nem um caridoso aceno de cabeça.

O ateísmo tem sido, para mim e para tantos outros incréus, a luz que me tem conduzido na vida. Às vezes fraquejo, em momentos de obscuridade e de dúvida, mas, mesmo sendo incapaz de provar a inexistência de Deus, tenho conseguido manter a fé - uma fé íntima fundada numa peregrinação que tem a grandeza e a humildade da longa caminhada da vida - em que Ele não exista. Todos os dias busco a não-existência do Senhor com renovada crença, ciente de que a Sua inexistência é misteriosa demais para que eu a tenha inventado.

É certo que o mesmo D. José Policarpo já havia dito que o ateísmo era o maior drama da humanidade - acima da fome, da guerra e do próprio time-sharing. Fê-lo, porém, em data menos misericordiosa. Sonegar saudações no Natal é particularmente cruel. O anátema mais duro é o que é lançado no tempo do perdão. Estou habituado a receber anátemas e garanto aos menos experientes que os anátemas natalícios são os que aleijam mais. Em todo o caso, no fundo eu sei bem que não sou digno de ser saudado. Acreditar que Deus existe é uma convicção profunda, mas acreditar que não existe, curiosamente, não o é. Alguém, munido de um aparelho próprio, mediu a profundidade das convicções e deliberou que as do crente são mais fundas que as do ateu. Quando alguém diz acreditar em Deus, está a exprimir legitimamente a sua fé; quando um ateu ousa afirmar que não acredita, está a agredir as convicções dos crentes. Ser crente é merecedor de respeito, ser ateu é um crime contra a humanidade. Ainda assim, esperava ter sido saudado. Eu não acredito em Cristo, mas sempre acreditei nos cristãos. É a primeira vez que vejo um deles recusar ao menos uma saudação a um pecador.

 

in: visão

by:ricardo araujo pereira

O Benfica e Ricardo Araújo Pereira... ("Chama imensa", Jornal " A Bola")

31
Out09

" Este Benfica é uma desilusão (Aviso já que vou passar a levantar-me apenas de 3 em 3 golos)

PRIMEIRO foram as contratações. Como podiam ser boas se o Benfica faz contratações todos os anos e não tem ganho grande coisa? E a este raciocínio, que seria excelente se não fosse falacioso, seguiram-se outras considerações. Um espanhol por sete milhões? Um absurdo. Se fosse bom, o Real Madrid ficava com ele. Saviola? Um bluff, disseram uns. Vem passar férias e é tão mau jogador como Aimar, disse um candidato a presidente do Benfica. Um homem com visão. Depois foi o treinador. Era inexperiente, não tinha categoria e foi contratado fora de tempo. Fez um trabalho apenas regular no Braga, disseram uns. Iria ser dos treinadores mais rapidamente despedidos da História, disse um candidato a presidente do Benfica- para quem o treinador ideal era Carlos Azenha (por coincidência um dos treinadores mais rapidamente despedidos da História). E a seguir foi a maldita pré-época. Que interessava ganhar todas as competições? Muitas vezes, as equipas que fazem as melhores exibições na pré-época são as que jogam pior no campeoanato, disseram uns. O candidato a presidente do Benfica é que nunca mais disse nada, o que é pena. Depois, vieram os primeiros jogos do campeonato. Sim, a equipa joga bem, mas é demasiado cedo para estar a jogar bem, disseram uns. Ao que parece, as boas exibições têm o seu tempo, e não é este. O Benfica, por incompetência ou ingenuidade, cometia a estupidez de jogar bom futebol. Logo a seguir, veio a primeira goleada- curiosamente, a maior das últimas décadas. Não impressionou. Normalíssimo, disseram uns. No ano passado também deram seis ao Marítimo e depois ficaram dois meses sem marcar, disseram outros. Havia que esperar pela semana seguinte. E então, esperou-se. Infelizmente, houve nova goleada. E depois, nova vitória. Os reforços são óptimos, o treinador é muito competente, a pré-época cumpriu as suas promessas, e as goleadas persistem. Não se faz. É muito aborrecido quando a realidade contraria sistematicamente os desejos das pessoas. Julgo que este Benfica deve um pedido de desculpas a muita gente.
Até aos benfiquistas, que também estão desiludidos. Que graça tem estar a ganhar por três ao quarto de hora? Que sentido faz um adepto ter de pedir ao companheiro do lado que lhe ausculte o peito, a ver se o coração continua a bater? Não há um resultado tangencial que o sobressalte, um contra-ataque perigoso que o faça palpitar, uma bola na trave que o obrigue a dar sinal. O Sr. Jorge Jesus e os seus pupilos têm consciência das dores musculares com que um ser humano fica quando é forçado a levantar-se de um salto oito vezes no espaço de uma hora e meia? Eu pago para ver futebol, não é para fazer aeróbica. Aviso já que vou passar a levantar-me apenas de três em três golos, uma vez que não tenho preparação física para acompanhar esta equipa. Espero em breve levantar-me por cinco vezes. Como sabem, ando há muito tempo a desejar um 15 a 0."

 

 

RECORD (CRONICA DO MIGUEL GOIS)

21
Ago09

Eu, de madeixas? 

 

Ninguém disse que ia ser fácil. Todo aquele bom futebol que o Benfica apresentou na pré-temporada só resulta com equipas que também elas se dispõem a jogar futebol. E, como se viu no domingo, é muito difícil os jogadores do Benfica concentrarem-se em marcar golos quando o "speaker" do Estádio da Luz passa os noventa minutos a repetir a frase "Pede-se ao dono da viatura 56-79-CV que venha retirar o autocarro que estacionou no meio do relvado".

Quanto a Jorge Jesus, até ao momento só tenho uma queixa. Por causa dos seus berros para dentro do campo, não consigo ouvir os sessenta e tal mil adeptos benfiquistas a gritar SLB, SLB. Não digo que não seja uma experiência nova: ir ao estádio e ainda assim ouvir todas as jogadas serem comentadas por um treinador prestigiado, algo que até este momento só era acessível a quem ficasse em casa a seguir as transmissões televisivas. Mas não estava preparado para ouvir o Jorge Jesus a gritar coisas como "Não podemos estar tão vulneráveis ao contragolpe adversário, ó c...!" Não vale a pena esconder que estou encantado com esta mistura entre Luís Freitas Lobo e Fernando Rocha.

Ao contrário de Carlos Carvalhal (que se apresenta com um "look" moderno, mas pratica um futebol que cheira a mofo), só a pastilha na boca e as madeixas no cabelo dão a Jorge Jesus um ar contemporâneo. Percebe-se que a pastilha está lá para substituir o mortífero cigarro, se bem que mascar pastilhas daquela maneira também não deve fazer nada bem à saúde. Em relação às madeixas no cabelo, já levanto algumas dúvidas no campo estético. Mas não duvidem que, no dia a seguir ao Benfica se sagrar campeão nacional, entrarei no salão do Moreno e direi, com todo o gosto: "Era umas madeixas acobreadas como as de Jorge Jesus, se faz favor."