"A ideia não é encurralar quem estamos a entrevistar"
Uma vez que se inspiraram no Daily Show, vai haver perguntas difíceis na parte da entrevista?
Tiago Dores (TD): Queremos que haja perguntas difíceis. É evidente que o facto de ser um programa de humor transforma as perguntas. Mas é justamente pelo facto de serem num tom humorístico que podemos ir um bocadinho mais longe na provocação, porque a ideia não é encurralar quem estamos a entrevistar, mas com o tom de humor dar uma oportunidade a quem estamos a entrevistar de arranjar uma forma airosa de responder ou tirar um bocadinho daquele ambiente normal de uma entrevista jornalística.
Ricardo Araújo Pereira (RAP): O nosso objectivo é que as perguntas tenham graça e que proporcionem respostas que também possam ter graça. Se houver uma pergunta que seja jornalisticamente muito pertinente, mas não tenha graça nenhuma, obviamente que não a faremos. O ideal é conciliar - fazer perguntas que, tendo uma pertinência jornalística, tenham graça também. Como em tudo o que fazemos, não é fazer política, fazer jornalismo, é fazer um "bom" programa humorístico. Se fizermos um programa de humor, já não é mau (sorriso).
Mas há áreas combinadas?
RAP: Sobre os bastidores da entrevista, uma vez que é uma área sensível, tanto para nós como para os convidados, e é como revelar o truque do mágico, o que temos dito é que não revelamos coisas dos bastidores.
TD: Agora, não é obviamente uma entrevista jornalística, isto é um programa de humor. Isso não significa que não queiramos confrontar os entrevistados com algumas questões que estão na ordem do dia e são relevantes e até polémicas.
Mas como são feitas as negociações com os candidatos para virem ao vosso programa?
TD: Basicamente, endereçámos convites através dos assessores. Mas contámos com a ajuda de Ricardo Costa, da SIC e do Expresso, menos para as autárquicas, que ele diz que já não quer.
Para quem sempre rejeitou o papel de contrapoder, este formato parece confirmar isso?
RAP: É possível que tenhamos uma latitude para fazer certas perguntas que seriam inadmissíveis noutro contexto. Isso até pode configurar uma situação em que somos aquilo a que se chama contrapoder. Agora, o que sempre rejeitámos é que essa fosse a nossa intenção. Não estamos aqui armados em justiceiros, tipo fazer a pergunta que ninguém fez... o nosso objectivo é fazer perguntas que tenham graça, que podem dar um momento engraçado.
E os políticos portugueses estão preparados para isso?
RAP: Isso vamos ver a partir de amanhã [hoje] (riso).
Já tiveram alguma dica de algum pivot para fazer aquela pergunta, apertar com um político...?
RAP: Directamente, não. As perguntas têm sido feitas aqui nesta sala. Até temos uma promoção com "Veja as perguntas que nunca ninguém lhes fez!". É provavelmente porque são perguntas absurdas.
E dicas sobre modo de funcionamento dos entrevistados?
RAP: Outro constrangimento, além de estarmos a ser guionistas do programa, apresentadores, produtores, é que temos também de ser diplomatas. Temos feito um esforço grande a conversar com assessores dos políticos, ir à sede do partido discutir com eles.